quarta-feira, 9 de março de 2011

Sobre as lembranças do passado.

Um daqueles dias normais, rotineiros, onde você faz tudo igual, como sempre - e que até pode prever o que vai acontecer no momento seguinte. Ela estava cansada, não cansada da vida, nem das pessoas como de costume, mas com o corpo cansado, exausto. Queria chegar em casa, sentar-se naquela cadeira em que se sentava todos os dias, matar algum tempo conversando com alguém agradável e depois dormir. Desceu do ônibus e caminhou vagarosamente até o início da estrada de barro. O silêncio daquela rua escura e sem muita iluminação chamou sua atenção. Sem som algum, de carros, vozes ou passos, nem mesmo um ruído qualquer, apenas o som da nada – aquele não-barulho típico que a noite tem. Sentiu um vazio, algo estranho, uma falta, uma perda – não sabia bem o que era, nem conseguia descrever. Tal desconforto soava como uma saudade, aquela coisa que aperta o peito e dá vontade de voltar no tempo para reviver algo que já passou. Olhou para trás e por alguns segundos contemplou aquele lugar, o mesmo lugar onde vivera tantos momentos, onde foi tão feliz e esbanjou sorrisos, e que agora parecia estar morto e esquecido. Ninguém ali - nem ela, nem os amigos, nem mesmo desconhecidos - mas ela podia se ver lá, lembrando vagamente de alguns momentos que ali se passaram. Pode então perceber, que o mal estar que sentia vinha da ausência do passado em sua vida. Sabia que passado era passado, e não voltava e por isso tinha esse nome - mas naquele instante sentiu saudade de tudo e todos com quem esteve ali. Apesar da dor que olhar para aquele lugar lhe causava, sentia uma saudade boa, daquelas que a gente lembra e dá um sorriso, daquelas que a gente pensa: “Como fui feliz!” Ela não podia voltar no tempo, a vida agora lhe cobrava mais do que nunca. Haviam outras coisas pela frente, desafios e objetivos a serem alcançados, ela sabia. Virou-se para frente e continuou a seguir seu caminho, como fazia em todas as noites que passava ali a caminho de casa. Mais um dia em que sua vida continuava. Mais um dia em que tudo mudava, deixando o passado cada vez mais distante... Assim, ao enfim chegar em casa, entrando no portão, pensou uma coisa boba, mas confortante: “O passado pode estar longe da realidade, mas nunca estará inacessível na lembrança.” E feliz com seu pensamento otimista, sorriu.

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