sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A espera...

Esperando com esperança que se acalmem os ventos, cessem os raios e que a chuva lá fora pare de cair tão forte para prosseguir meu caminho em paz. Esperando por dias melhores. Esperando que essa loucura de sentimentos avassaladores e sensibilidade mórbida desapareçam – e que aqui dentro volte a viver a alegria pela qual sempre zelei. Era uma alegria sincera, inocente e inofensiva, mas era minha, era verdadeira - e foi embora. Agora, só espero que esta tempestade termine logo e eu possa voltar a sorrir de verdade, com verdade. Não dá boca pra fora, mas de dentro pra fora. Esperando para arrumar toda essa bagunça que ficou - essa desorganização, esse caos. Esperando com esperança. Esperando com aflição e ansiedade. E esperando não precisar esperar por mais muito tempo!  

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Torpor.


Sem gestos, sem palavras, sem nada mais do que alguns poucos piscar de olhos, pensamentos vagos e sorrisos forçados. Por dentro nada. Só o vazio, o oco, o vácuo. Sem sentimentos de culpa, amor, desejo, saudade ou qualquer outra coisa que a fizesse sentir, lembrar. Torpor total, nem as lágrimas saíam mais. Era assim que ela se sentia naquela madrugada incomum. Era estranho ser insensível e ao mesmo tempo confortante, porque naquele momento o desespero e a tristeza não tomavam conta dela como em todas as noites. Anestesiada, dopada, era como se tivesse consumido a droga mais forte e viajado para bem longe desse mundo – e da sua realidade de dor.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Distante...

Tão perto e ao mesmo tempo tão distante. É impossível medir o caminho que me leva até você – cheio de pedras, destroços e os entulhos que deixei na estrada de volta à essa vida sem cor que levo. Perto e longe, uma contradição que dói e maltrata. Perto e longe, perto do teu coração, da tua alma. E longe, muito longe de te alcançar, de te abraçar, e enfim, te ter pra só mim!

Desintoxicar.

Quero testar meus sentimentos pela milionésima vez, a última vez - pra ver no que dá. Preciso urgentemente compreender, descompactar e organizar as coisas aqui dentro, colocar tudo em ordem e tomar uma decisão definitiva, e dessa vez sem culpa. Cansei de viver todos os dias sendo ameaçada por mim mesma e pela minha mania tão boba de continuamente querer as coisas de volta sempre que elas vão embora. É assim há muito tempo, um ciclo. Ininterruptamente desejo tudo errado, torto, ao contrário, do avesso. Gosto das coisas quando estão longe, distantes e fora do meu ponto de vista. Gosto de me desfazer, sofrer, fantasiar, lutar e conseguir reconquistar de novo; e quando consigo: babau – enjôo e me desfaço outra vez. Confesso que viver assim traz uma sensação de poder, um sentimento de onipotência de sempre conseguir o que quero e um prazer indescritível de posse e força. Mas em compensação, não tenho paz, sossego, e nunca me vejo satisfeita com a realidade. Acho que isso é um vício - preciso desintoxicar. Decidi parar, dessa vez pra valer - e me comprometo comigo e com a minha alma a não mais deixar a minha felicidade ir embora, esteja onde estiver. Vou reviver de novo tudo o que já vivi, pra ver o que sinto, pra ver onde o coração bate mais forte. Fazer um balanço e fechar o caixa de vez, antes que esteja tudo falido. Se der certo, continuo naquele caminho linda e feliz. Se não der, volto atrás a estaca zero, e começo a reconstruir aos poucos, tudo de novo!

domingo, 10 de outubro de 2010

Sintonia.

Ele olhou para ela com ar de saudade e malícia - e perguntou se era proibido. Ela respondeu: - Nada é proibido! Ambos deram um meio-sorriso de lábios fechados, sorrindo também com os olhos - que continuavam fixos uns nos outros e sem piscar. Ela desviou seu olhar do dele por não aguentar encarar os olhos castanhos que brilhavam tanto na sua frente, a hipnotizando. Ele reparava nela a cada movimento sutil que fazia, como se estivesse admirando uma jóia rara. Estava de pé encostado na parede na frente dela, que permanecia sentada olhando fixo para o chão, tentando disfarçar o nervosismo de estar perto dele. De novo estavam frente a frente. Não se tocaram, abraçaram, nem tiveram nenhum contato físico, mas mesmo assim podiam sentir o calor que um passava para o outro - e se aqueciam de longe, vencendo o vento gelado daquela noite fria. Estavam envoltos por uma sintonia incomum, harmonia, reciprocidade de sentimentos - assim como era sempre que se encontravam. Não queriam deixar de estar perto, mas precisavam ir, tinham suas vidas, seus compromissos, outras pessoas que os esperavam. Sabiam que se desejavam mutuamente e isso já era o bastante. Saber que o amor ainda morava neles era uma esperança. Saber que o amor ainda morava neles, mesmo depois de tanto tempo ausentes soava como uma oportunidade única, talvez a última, de recomeçar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sem vida.

Tentava conter, mas as lágrimas saiam de seus olhos tão naturalmente como numa forma de expressar o que não podia dizer, viver. As lágrimas apesar de tristes tinham um papel importante naquele momento: colocar pra fora toda aquela infelicidade que ela guardava - e disfarçava se maquiando e se vestindo sempre bem, pra ninguém notar a sua dor. Tinha vontade de fazer tantas coisas... Qualquer coisa que a desse de novo um pouco de vida, que a fizesse voltar a acreditar que viver vale a pena – mas parecia impossível! Aquela vontade tão grande de ser feliz se misturava com uma não-vontade e no fim acabava sendo algo muito estranho, confuso. As lágrimas saiam enquanto ela lembrava de como era feliz, e tentava entender como pôde se transformar nessa criatura que apenas sobrevive, e vai levando os seus dias sem nenhum prazer. Queria sentir de novo que valia a pena viver e tornar seus sonhos realidade, mas a cada segundo que passava sentia-se mais fraca e menos disposta a continuar. As lágrimas rolavam pelo seu rosto e deixavam uma marca que representava sua total insatisfação perante a vida. Ao olhar-se no espelho já não se reconhecia mais. Sentia como se fosse outra pessoa, como se tivessem roubado dela aquela garota feliz e deixado outra, apática, no lugar. Os dias passando, o coração batendo - era só isso. Ela se resumia nisso e mais nada. A cada dia era mais difícil viver, a cada dia era mais difícil acreditar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sentir dor.

Com muito cansaço, olhos vermelhos e molhados de lágrimas e uma dor indescritível no corpo inteiro - peço para que alguma força superior me tire dessa realidade da qual não suporto mais fazer parte. Por alguns minutos desejo deixar de existir e sumir desse mundo pra sempre - pensando em cessar o sofrimento que dilacera e rasga todo e qualquer fragmento de esperança que eu ainda possa vir a ter dentro de mim. Espero de olhos fechados que tudo termine; com a certeza de que de repente eu estarei em paz, enfim! Abro os olhos com ansiedade e um pouco de medo, mas vejo ao meu redor o mesmo de sempre - o que só aumenta ainda mais a dor com a sentença de que serei obrigada a continuar vivendo, apesar de não desejar isso. Mantenho-me em silêncio e percebo que lá fora a vida continua indiferente da minha tristeza, desespero. Sigo ouvindo os barulhos de carros passando na rua, pessoas conversando e crianças brincando e sorrindo. Pergunto-me quase sem voz: "Meu Deus, até quando?" e ouço minha própria consciência responder, como se eu já soubesse a resposta para aquela pergunta: "Até quando você quiser. Até quando você criar coragem e abandonar aquilo que te faz infeliz". Sentada, encostada na parede áspera da sala e encolhida abraçando as pernas com todas as minhas forças, apenas choro - em silêncio...

sábado, 2 de outubro de 2010

Sobre eu e o mundo.

Não sei por que estou aqui, nem por quanto tempo - mas sempre procurei e ainda procuro a resposta para essa pergunta um tanto difícil e intrigante. Não sei por que tantas vidas passaram pela minha vida se tornando tão importantes, para depois ir embora sem nem ao menos se despedir. Não consigo entender porque algumas pessoas machucam os sentimentos das outras, ainda jurando amar, ainda amando, ainda querendo fazer o contrário - e também não sei por que tantas vezes na vida fiz exatamente isso. A todo o momento tento relacionar as coisas, achar o caminho, fazer com que tudo de certa forma faça algum sentido, mas nem sempre é assim... Não sei por que muitas vezes na vida precisamos abrir mão de algumas coisas que queremos tanto, para ficar com outras que não desejamos com a mesma intensidade, mas que naquele momento se fazem necessárias. Não consigo entender a morte, a perda, o fim. Não posso compreender o fato de passarmos praticamente todos os anos de nossas vidas planejando tudo e de uma hora pra outra simplesmente desaparecer pra sempre, deixar de existir, acabar. Procuro todos os dias acordar e traçar metas, desafios, ocupar a cabeça, me distrair. Acho importante estar sempre fazendo algo, porque pra mim é perigoso ficar só, é perigoso ficar parada - e pensar. Às vezes tento mudar, nem sempre consigo, mas nessas horas me contento com o fato de ter tentado, porque acredito ser o início de tudo: a iniciativa. Cobro muito de mim mesma - demasiadamente e intensamente, e não me permito perder – uma qualidade um tanto perigosa para a auto-estima e o ego pessoal, porém, dessa forma a maioria das batalhas em que entro, entro para vencer – e é assim. A vida me ensinou muito com suas surpresas maravilhosas e desagradáveis. Aprendi a chorar pra desabafar não tendo com que conversar e também aprendi a falar comigo mesma e responder o que eu gostaria de ouvir. Aprendi a ser sincera, a fazer amigos e a controlar um pouco - mesmo que muito pouco, a minha euforia, a minha ira e os meus impulsos até então incontroláveis. A única coisa que até hoje não aprendi, foi a não me machucar com as pessoas! Coloco sentimento em tudo, me dôo e sempre espero que a outra pessoa se doe da mesma forma, o que faz com que às vezes eu saia frustrada, decepcionada - com os amigos, com os amores.  Não me imagino velhinha, não gostaria de viver por tanto tempo - até uns 50 anos acredito que seria o suficiente para mim. Assim, teria tempo necessário para alcançar meus objetivos e realizar meus sonhos, criar meus filhos, ver meus netos e descansar um pouco. Não gostaria de viver pra ver o mundo se destruir ainda mais e os homens matarem uns aos outros e ensinarem aos seus filhos que é correto ter armas, mentir e ser infiel. Não gostaria de ver meus netos sofrendo pela falta de água, pela falta de ar, pela falta de amor. Gostaria de poder mudar muitas coisas no mundo - acabar com a fome, a desigualdade, o sofrimento das pessoas – porque sou intensa demais e sofro ao ver outro ser humano sofrer. Gostaria de poder falar a meu filho sobre outro mundo que não fosse esse – onde não se mata por dinheiro, poder e ganância. Um mundo onde ainda fosse valorizada a essência e não apenas as formas corporais e a conta bancaria de alguém. Gostaria de mostrar a ele como o mundo é bom, e como é maravilhoso poder viver sem vergonha de ser diferente, sair de casa sem medo de ser assaltado e confiar na boa vontade das pessoas. Mas que pena! Terei que apresentar ao meu filho as desgraças do planeta, as maldades e desigualdades e ensiná-lo a se defender disso tudo - a amar, a ser um homem honesto e a fazer a diferença nesse mundo indiferente. Não sei por que os homens destroem uns aos outros e a si mesmos. Porque esquecem do amor, dos valores, da importância das pequenas coisas, das palavras e principalmente da dignidade. Não sei por que os homens acabam com todas as oportunidades que tem de mudar, de salvar sua espécie, seus netos, sua geração. Não sei... Busco encontrar respostas para a vida, para tudo, mas elas não me encontram! Talvez seja melhor continuar sem saber, sem compreender, talvez ninguém nunca obtenha essas respostas tristes, vazias. Ou quem sabe um dia se conseguirmos descobrir as respostas de tudo e encontrar soluções pra tudo - tudo deixe de fazer sentido.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Razão de viver.

Pensava em tantas coisas ao mesmo tempo, que era difícil identificar seus pensamentos e colocá-los em ordem. Eram coisas distintas que iam desde letras de músicas que passavam repetidamente por sua cabeça, até o próximo projeto de vida que havia planejado alcançar naquele ano. Uma mistura de coisas, boas e ruins, perguntas e dúvidas. Lembrava também de muitas coisas das quais sentia saudade – como as festas com os amigos e as tantas risadas que haviam dado juntos quando se reuniam nos fins de tarde para falar besteiras. Sentia saudade, mas tinha consciência de que aquele era um passado distante - e nos passados distantes não há como voltar. Era uma saudade gostosa e nostálgica que por vezes a deixava triste e por outras feliz - quando se dava conta de como aproveitou a vida, de como fez amigos e mais ainda, de como havia vivido intensamente e feito coisas que jamais imaginara - aprendendo muito em tudo o que fizera. Queria voltar no tempo só mais uma vez pra sentir o gostinho da liberdade, de sair e não ter hora pra voltar, de desaparecer por uma noite inteira sem nenhuma preocupação, nenhuma aflição, saudade. Mas sabia que agora tinha algo bem maior e valioso, uma vida que dependia dela, uma vida que era dela e que fazia parte dela. A vida que saiu de dentro dela e pra sempre seria sua razão de viver – e lutar. A vida que transformou sua vida e deu cor aos seus dias. A vida que devolveu a ela a inocência há tempos perdida - e aquela vontade infinita de sonhar acordada, como criança.